quarta-feira, 20 de março de 2013

The Wife's Lament


The Wife's Lament (O canto triste da esposa) trata-se de um poema anglo-saxônico composto por 53 versos. Ele foi encontrado no Exeter Book (Livro de Exeter), sendo comumente considerado como uma elegia à maneira de uma Frauenlied (subgênero de Minnesang).



Não se sabe exatamente quando foi produzido, apenas que, provavelmente, fora antes da compilação do Livro de Exeter. Ainda assim, o poema tem sido relativamente bem preservado. Sua temática tange o pesar de um eu lírico feminino, retratando seu estado de desconsolo e aflição.

A narradora transforma sua experiência desoladora em música, pois se encontra exilada de seu próprio povo e de seu marido. Solitária e já idosa, ela também se encontra condenada à pobreza em um ambiente selvagem, cercada por vizinhos hostis.


Segue o poema traduzido por R. M. Liuzza em inglês moderno:


I make this song of myself, deeply sorrowing,
my own life’s journey. I am able to tell
all the hardships I’ve suffered since I grew up,
but new or old, never worse than now –
ever I suffer the torment of my exile.
First my lord left his people
for the tumbling waves; I worried at dawn
where on earth my leader of men might be.
When I set out myself in my sorrow,
a friendless exile, to find his retainers,
that man’s kinsmen began to think
in secret that they would separate us,
so we would live far apart in the world,
most miserably, and longing seized me.
My lord commanded me to live with him here;
I had few loved ones or loyal friends
in this country, which causes me grief.
Then I found that my most fitting man
was unfortunate, filled with grief,
concealing his mind, plotting murder
with a smiling face. So often we swore
that only death could ever divide us,
nothing else – all that is changed now;
it is now as if it had never been,
our friendship. Far and near, I must
endure the hatred of my dearest one.
They forced me to live in a forest grove,
under an oak tree in an earthen cave.
This earth-hall is old, and I ache with longing;
the dales are dark, the hills too high,
harsh hedges overhung with briars,
a home without joy. Here my lord’s leaving
often fiercely seized me. There are friends on earth,
lovers living who lie in their bed,
while I walk alone in the light of dawn
under the oak-tree and through this earth-cave,
where I must sit the summer-long day;
there I can weep for all my exiles,
my many troubles; and so I may never
escape from the cares of my sorrowful mind,
nor all the longings that have seized my life.
May the young man be sad-minded
with hard heart-thoughts, yet let him have
a smiling face along with his heartache,
a crowd of constant sorrows. Let to himself
all his worldly joys belong! let him be outlawed
in a far distant land, so that my friend sits
under stone cliffs chilled by storms,
weary-minded, surrounded by water
in a sad dreary hall! My beloved will suffer
the cares of a sorrowful mind; he will remember
too often a happier home. Woe to the one
who must suffer longing for a loved one.


Segue uma análise do poema (em inglês):



Fonte:


The Wife's Lament

The Wife's Lament (Faculty Goucher)

Poema traduzido em inglês (R. M. Liuzza)

terça-feira, 12 de março de 2013

A Batalha de Hjörungavágr


File:Olav Tryggvasons saga - Uvaeret Hjoerungavaag - H. Egedius.jpg
Tempestade durante a Batalha de Hjörungavágr


A Batalha de Hjörungavágr foi uma batalha naval semi-legendária que ocorreu no final do século X entre os jarls de Lade (dinastia de governadores noruegueses) e uma invasão dinamarquesa liderada pelos Jomsvíkings (mercenários vikings dos séculos X e XI). Essa batalha teve um papel crucial no empenho de Haakon Sigurdsson para a unificação de seu poder na Noruega, visto que foram eles os vitoriosos.

Haakon Sigurdsson governava a Noruega como um vassalo do rei Harald Bluetooth (Harald, O Dente Azul) da Dinamarca. Entretanto, Haakon mostrava-se mais como um governador independente do que um vassalo propriamente dito. Ele era um fiel devoto aos deuses do panteão nórdico. Em 975, quando Harald Bluetooth tentou forçá-lo a se converter ao cristianismo, Haakon rompeu sua aliança com a Dinamarca. Então, Harald, sem o apoio de Haakon, acabou sendo derrotado pelo imperador germânico Otto II. Haakon, por sua vez, aproveitou-se da oportunidade: tirando vantagem da posição enfraquecida do rei dinamarquês, proclamou a independência da Noruega.


File:Olav Trygvasons saga - Uvaeret, Hjoerungavaag - G. Munthe.jpg
"Storm in Hjørungavåg"
Artista: Gerhard Munthe


A batalha é descrita nas sagas reais nórdicas, tais como o Heimskringla, bem como a Saga Jómsvíkinga e Gesta Danorum de Saxo Grammaticus. Saxo Grammaticus estimou que a batalha aconteceu quando Harald Bluetooth ainda era vivo. Seu período é considerado o ano de 986.

Alguns contemporâneos da poesia escáldica aludiram à batalha, incluindo os versos de Þórðr Kolbeinsson e de Tindr Hallkelsson. O evento também foi o tema de poemas e sagas posteriores. O Jómsvíkingadrápa, de Bjarni Kolbeinsson, exalta os Jomsvikings, mesmo derrotados. O Vellekla, composto pelo poeta islandês Einarr Helgason, também fala da Batalha de Hjörungavágr. Também, o Fagrskinna apresenta a história da Noruega com ênfase nas batalhas, incluindo a batalha em questão.


Fonte:

sábado, 9 de março de 2013

A Batalha de Maldon

A Batalha de Maldon no Blackwater.


A Batalha de Maldon (Battle of Maldon) é um poema anglo-saxão que evoca uma batalha ocorrida entre anglo-saxões e invasores escandinavos em 991 d.C. A data de sua produção é incerta, mas, segundo evidências linguísticas, Donald Scragg defende que o poema seja datado do final do século X ou início do XI.

O evento ocorreu quando vikings e anglo-saxões se enfrentaram no estuário do rio Blackwater, próximo de Maldon, em Essex. Os vikings haviam realizado sucessivas invasões nos portos das redondezas, estabelecendo-se em uma ilha perto da nascente do rio. Byrhtnoth, o earl (soberano) de Essex, que era também o líder da milícia inglesa, assumiu sua posição para evitar o inimigo de atravessar as terras. Todavia, como o poema relata, ele, confidencialmente, permitiu uma passagem para que a batalha ocorresse. Tal ato resultou em sua morte. Muitos defensores fugiram, mas outros membros de sua guarda resistiram e continuaram lutando até seus fins.

Blackwater (agosto 1991)

Na forma incompleta a qual o poema perdurou até os dias atuais, não há uma estruturação explícita da derrota inglesa, mas um tom austero, especialmente no famoso discurso que Byrhtwold prepara frente ao desastre, como pode ser conferido abaixo:


Then Byrhtwold spoke, old loyal retainer,

While shaking ash-spear, and shield raised aloft,
In brave battle words he commanded the charge:
"Courage shall grow keener,clearer our will,
More valiant our spirits, as our strength grows less.
Here lies our good lord, all leveled in dust
The man all marred. True kinsman will mourn
Who thinks to wend off from battle play now.
Though whitened by winters I will not away,
But lodge by my liege lord that favorite of men;
By my dear one and ring giver intend I to lie."
So,too, then did Godric, Aethelgar's child
Embolden them all, call forth to spear-play.
Death-darts he sent flying, driving the Danes;
Forged doom among Sea-Wolves scattering blows,
Falling at last.



O poeta desconhecido do período anglo-saxão tardio era, aparentemente, bem versado na poesia inglesa heroica, como a de Beowulf, ainda que não correspondesse a forma exímia deste. Ele realizou um trabalho esplêndido ao adaptar os maneirismos épicos tradicionais à sua descrição do local da batalha (até então, de importância histórica irrelevante) e dos feitos de seus contemporâneos, quando, na verdade, as forças defensoras não passavam de uma "guarda doméstica": fazendeiros inexperientes e trabalhadores consignados para a defesa local, juntos de um grupo de aristocratas que dispunham de uma tradição marcial heroica. Apesar de o poema ter um caráter aristocrático, "A Batalha de Maldon" visa objetividade, sendo ele o poema anglo-saxão que menos apresenta ornamentos literários.

Estátua de Byrhtnoth em Maldon, Essex.
Artista: John Doubleday.

Godric e seus irmãos, que, de acordo com o poema, fugiram da batalha, são representantes dos ingleses que preferiam pagar tributos em vez de confrontar os invasores em batalha. Byrhtnoth e seus vassalos, por outro lado, são a resistência tradicional, difícil de lidar. É principalmente em seus discursos e combates individuais que o poeta aplica seu estilo épico. Depois que Byrhtnoth é morto, seus companheiros leais discursam expressando a ética heroica, cada um a seu modo.

Lápide de Byrhtnoth


Fonte:


The Battle of Maldon (inglês)

Poema traduzido em prosa portuguesa por Elton Medeiros

Poema em anglo-saxão com notas (em inglês)

Poema traduzido (anglo-saxão para inglês) por Wilfrid Berridge

The Battle of Maldon (prosa inglesa)

Sobre a Batalha de Maldon (inglês)


Sugestão de leitura:



Cooper, Janet (ed.), The Battle of Maldon: Fiction and Fact (Hambledon 1991)

Hart, Cyril, The Danelaw (Hambledon 1992), pp.533-551

Scragg, Donald (ed.), The Battle of Maldon AD991 (Blackwell 1991)