segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Flateyjarbók




Mapa da Islândia



Flatey



Flatey



O Flatey Book (islandês: Flateyjarbók) é um importante, além de maior, manuscrito islandês medieval, também conhecido como Codex Flateyensis, o qual contém 225 velinos escritos e ilustrados. Em sua maioria, ele apresenta sagas de reis nórdicos, tratando especificamente de sagas a respeito de Olaf Tryggvason, St. Olaf, Sverre, Hakon O Antigo, Magnus O Bom e Harald Hardrada, como encontrado no Heimskringla. Além disso, o manuscrito também contém uma cópia única do poema édico Hyndluljóð, um conjunto único de registros históricos datados de 1394 e muitos contos conservados, como o Nornagests þáttr (História de Norna-Gest).

A saga Grœnlendinga (História dos gronelandeses), também especialmente importante, narra sobre a colônia Vinland (atual América do Norte) com alguns contrastes da versão contida na saga Eiríks saga rauða (História de Eirík, O Vermelho). Na obra também estão preservadas as únicas versões islandesas da saga Orkneyinga (História dos nativos de Orkney) e da saga Færeyinga (História dos nativos feroenses).



Iluminuras do Flateyjarbók



Velino ilustrado do Flateyjarbók



Aproximadamente, o manuscrito começou a ser escrito em 1387 e foi concluído em 1394. A primeira página constata que o proprietário da obra é "John Hakonar son" (John, filho de Hakonar) e que o livro foi produzido por dois monges. Um deles, "Jon prestr Þórðar son" (monge Jon, filho de Þórðar), escreveu o conteúdo do conto de Eirík The Traveller (Eirík, O Viajante) até o final das 2 sagas de Olaf. O outro, "Magnús prestr Thorhallz sun" (monge Magnús, filho de Thorhallz), também participou da escrita do conteúdo e ilustrou a obra. Conteúdos adicionais foram acrescentados ao final do século XV.

Inicialmente, o manuscrito recebeu atenção especial pelos letrados em 1651, quando o bispo Brynjólfur Sveinsson de Skálholt, com a permissão do rei Frederick III da Dinamarca, requisitou que todo o povo islandês entregasse os manuscritos antigos, fosse uma cópia ou o próprio original, que detinham ao rei dinamarquês como presente ou por um preço. Jon Finnsson, que morou em Flatey (Flat Island) em Breiðafjörður na costa oeste da Islândia, foi o proprietário do manuscrito que então já era conhecido como Flateyjarbók. Inicialmente, Jon se recusou a entregar sua preciosa relíquia de família, o maior livro de toda a Islândia, e continuou a recusar mesmo quando o bispo Brynjólfur o visitou pessoalmente, oferecendo 500 terras. Jon só mudou de ideia e concedeu o livro quando o bispo estava partindo da região.



Bispo Brynjólfur Sveinsson (1605 - 1675)



O manuscrito foi dado de presente ao rei Frederick III em 1656, tendo sido colocado na Biblioteca Real de Copenhagen. O resto da coleção do bispo foi dispersa pelos herdeiros, que não tinham interesse na coleção de manuscritos antigos. Infelizmente, a maioria deles se perderam para sempre, apesar de muitas transcrições terem sido realizadas. O Flateyjarbók e o Codex Regius foram repatriados pela Islândia em 1971 como tesouros islandeses nacionais. Atualmente, são estudados e preservados pelo Instituto Árni Magnússon.



Rei Frederick III da Dinamarca



Biblioteca Real de Copenhagen



Instituto Árni Magnússon



O Flateyjarbók consiste dos seguintes textos:

  • Geisli (um poema religioso de St. Olaf II da Noruega)
  • Ólafs rima Haraldssonar (um poema de St. Olaf no estilo rimur, o mais antigo na poesia islandesa)
  • Hyndluljóð (um poema em nórdico antigo)
  • Um conto do Gesta Hammaburgensis Ecclesiae Pontificum
  • Sigurðar þáttr slefu
  • Hversu Noregr byggðist
  • Genealogias de reis noruegueses
  • Eiríks saga víðförla
  • Ólafs saga Tryggvasonar, que contém:
    • Saga Grœnlendinga
    • Saga Færeyinga
    • Saga Jómsvíkinga
    • Otto þáttr keisara
    • Fundinn Noregr
    • Orkneyinga þáttr
    • Albani þáttr ok Sunnifu
    • Íslands bygging
    • Þorsteins þáttr uxafóts
    • Sörla þáttr
    • Stefnis þáttr Þorgilssonar
    • Rögnvalds þáttr ok Rauðs
    • Hallfreðar þáttr vandræðaskálds
    • Kjartans þáttr Ólafssonar
    • Ögmundar þáttr dytts
    • Norna-Gests þáttr
    • Helga þáttr Þórissonar
    • Þorvalds þáttr tasalda
    • Sveins þáttr ok Finns
    • Rauðs þáttr hins ramma
    • Hrómundar þáttr halta
    • Þorsteins þáttr skelks
    • Þiðranda þáttr ok Þórhalls
    • Kristni þáttr
    • Eiríks þáttr rauða
    • Svaða þáttr ok Arnórs kerlingarnefs
    • Eindriða þáttr ilbreiðs
    • Orms þáttr Stórólfssonar
    • Hálfdanar þáttr svarta
    • Haralds þáttr hárfagra
    • Hauks þáttr hábrókar
  • Ólafs saga helga, que contém:
    • Saga Fóstbrœðra
    • Saga Orkneyinga
    • Saga Færeyinga
    • Nóregs konungatal
    • Haralds þáttr grenska
    • Ólafs þáttr Geirstaðaálfs
    • Styrbjarnar þáttr Svíakappa
    • Hróa þáttr heimska
    • Eymundar þáttr hrings
    • Tóka þáttr Tókasonar
    • Isleifs þáttr byskups
    • Eymundar þáttr af Skörum
    • Eindriða þáttr ok Erlings
    • Ásbjarnar þáttr Selsbana
    • Knúts þáttr hins ríka
    • Steins þáttr Skaptasonar
    • Rauðúlfs þáttr
    • Völsa þáttr
    • Brenna Adams byskups
  • Saga Sverris
  • Hákonar saga Hákonarsonar
  • Um adendo a Ólafs saga helga por Styrmir Kárason
  • Uma saga do rei Magnus O Bom e do rei Harald Hardrada do tipo Morkinskinna
  • Hemings þáttr Áslákssonar
  • Auðunar þáttr vestfirzka
  • Sneglu-Halla þáttr
  • Halldórs þáttr Snorrasonar
  • Þorsteins þáttr forvitna
  • Þorsteins þáttr tjaldstæðings
  • Blóð-Egils þáttr
  • Grœnlendinga þáttr (diferente da saga Grœnlendinga)
  • Helga þáttr ok Úlfs
  • Játvarðar saga helga (saga do rei Edward)
  • Flateyjarannálar

(Fonte: Open Library)


Fonte:

Flateyjabók

Instituto Árni Magnússon

Iluminuras do Flateyjarbók

Biblioteca Real de Copenhagen



Artigos:

Cultural Paternity in the Flateyjarbók Ólafs saga Tryggvasonar

Norse Mythology - Legends of Gods and Heroes

What a woman speaks

Eddic Mythology

The sagas of Icelanders as a Historical Source

O Rei Burislaf: ligeira concessão ao cientificismo e considerações acerca do cômico, do factual e do fictício



Tradução:

A saga de Hedin e Hogni

Conto de Norna-Gest

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Batalha de Brunanburh




Imagem do jogo Mount & Blade.



A Batalha de Brunanburh, também conhecida como a Batalha de Vínheið¹, é um poema em inglês antigo que está conservado na Crônica Anglo-Saxã. O poema trata da Batalha de Brunanburh, uma batalha que ocorreu entre um exército inglês e um exército misto de escoceses, bretões e vikings em 937. O resultado da vitória foi inglesa, celebrada no poema em estilo e língua. O poema é notável devido aos seus elementos tradicionais, tendo sido consagrado pelo seu tom autêntico e nacionalista, os quais documentam o desenvolvimento de uma Inglaterra unificada, governada pela Casa de Wessex (House of Wessex).

A batalha foi a culminação de um conflito entre o rei Æthelstan e os reis nórdicos. Após Æthelstan ter derrotado os vikings em York em 928, ele tentou expandir sua autoridade sobre a maioria dos territórios do norte da Bretanha. Constantine II, o rei escocês, reconheceu a ameaça imposta pela Casa de Wessex à sua posição e, em resposta, começou a formar alianças com reinos vizinhos a fim de realizar um contra-ataque preventivo a Æthelstan. Ele então se casou com a filha de Amlaíb mac Gofraid (também chamado de "Olaf Guthfrithsson" e "Anlaf" no poema), o rei nórdico-galês de Dublin. Amlaíb, por sua vez, clamou o trono da Nortúmbria, do qual Æthelstan tinha expulsado seu pai em 927. Enquanto isso, no lado inglês, Æthelstan se uniu a seu meio-irmão, o posterior rei Edmund I.




Túmulo do rei Æthelstan no Museu Athelstan, Monastério de Malmesbury.
Fotografia: Gary Shield.







Edmund I, meio-irmão de Æthelstan




O exército invasor reuniu vikings, escoceses e bretões de Strathclyde e, sob a liderança de Olaf Guthfrithsson (Amlaíb), invadiram a Inglaterra pelo Humber. No final de 937, Æthelstan respondeu a invasão enfrentando-os na Batalha de Brunanburh. Como resultado, as forças combinadas de Wessex e da Mércia derrotaram, perseguiram e destruíram as forças nórdicas e aliadas.

O campo da batalha ainda não foi precisamente identificado e várias alternativas foram sugeridas. Uma delas se situa no sul da Escócia, próxima à elevação de Burnswark, leste-sul de Lockerbie. Entretanto, segundo Smurthwaite, "parece inconcebível que uma batalha tenha acontecido no norte da fronteira, principalmente se considerarmos que Olaf desembarcou no Humber".



Burnswark Hillfort



Humber, região por onde Olaf e aliados invadiram.




O poema está conservado em 4 dos 9 manuscritos da Crônica Anglo-Saxã. Na Crônica Parker (Parker Chronicle), seus versos em linha foram escritos poeticamente, seguindo a prática comum dos escribas anglo-saxões. O poema de 73 linhas foi escrito em um "saxão indeterminado", apesar de ser considerado como parte do dialeto saxônico do oeste, este utilizado na maioria da poesia preservada em inglês antigo (Old English). Ele é conhecido como uma celebração panegírica da vitória de Æthelstan e Edmund I.

O texto começa louvando o rei Æthelstan e seu irmão Edmund I pela sua vitória. É mencionada a queda dos "escoceses e navegantes", enquanto "o campo de batalha fluía / com sangue escuro". "Navegantes nórdicos" e "escoceses fatigados" foram mortos por "saxões do oeste [que] / perseguiram aqueles povos odiosos", atacando-os nas costas. "Cinco reis jovens" foram mortos em batalha, bem como "sete / earls de Anlaf". Amlaíb mac Gofraid ("Anlaf") foge de barco e Constantine foge para o norte, deixando "seu filho / finalizado por armas em pleno campo de batalha, / um mero menino em um cenário bélico". O poema termina comparando a batalha àqueles que lutaram em fases anteriores da história inglesa (a tradução seguinte não seguiu a poeticidade do documento original no intuito de transmitir o conteúdo em vez da forma):



                    Nunca, antes disso,

                    houve mais homens nesta terra trucidados

                    pela aresta da espada - como confirmado nos escritos

                    e sagas antigas - desde quando os Anglos e os Saxões singraram aqui

                    do leste, solicitaram os Bretões sobre os mares,

                    desde quando aqueles ferreiros martelaram os Galeses

                    e os earls, ávidos por glória, arrasaram a terra.



O estilo do poema tem sido descrito como "parecido com a saga no esparso uso da língua combinada com detalhes específicos". Segundo George Anderson², visto que o poema data de um período tardio do inglês antigo, ele evidencia a atração contínua da "tradição do guerreiro": se apresenta como um "testemunho claro da vitalidade da tradição épica do inglês antigo; um documento autêntico que reaparece anos após o poeta de Beowulf, os poetas Caedmon e Cynewulf". Donald Fry, acadêmico americano, compara passagens de Beowulf e de Brunanburh considerando o embarque dos navios e observa que há uma "dicção e imaginário similares".

Junto dos combatentes, há também a presença das "bestas de batalha", isto é, animais decorrentes em poemas do inglês antigo, tais como o lobo, o corvo e a águia. Na Batalha de Brunanburh, porém, incluíram um quarto animal, o guþhafoc (war-hawk; falcão de guerra) na linha 64. Entretanto, editores e acadêmicos sugeriram que graedigne guþhafoc, (o insaciável falcão da guerra), na verdade, correspondesse a um kenning para o hasu-padan, / earn æftan hwit (a penugem sombria, águia de cauda branca) das linhas 62b-63a.

De acordo com Malcolm Godden, professor especialista em estudos anglo-saxônicos da Universidade de Oxford, a língua remete àquela do inglês antigo no Genesis A (manuscrito de Caedmon). O poema, no entanto, nem sempre fora bem recebido, tendo sido criticado por Walter John Sedgefield, acadêmico americano, nos estudos dos poemas da Crônica Anglo-Saxã em 1904. Ele afirmou que "apesar de longo e bem escrito, a Batalha de Brunanburh não passa de um simulacro, um fantasma do epos mais antigo". Alistair Campbell³, por sua vez, defende que um poema não deve ser tratado como um texto histórico, além de considerar que panegírico seja um gênero apropriado: "Os sujeitos do poeta são o elogio dos herois e a glória da vitória. Quando isso é considerado, a frequente crítica, que não convém aos saberes históricos acerca da batalha, desfalece. Não era seu objetivo, portanto. Ele não estava escrevendo um épico ou uma balada, ele estava escrevendo um panegírico".

Comparado a Batalha de Maldon, um poema em inglês antigo que também tem caráter bélico entre ingleses e vikings meio século depois, Brunanburh distingue-se por seu som harmônico nacionalista, ao passo que Maldon celebra o cristianismo sobre valores não-cristãos. Brunanburh não toma uma "responsabilidade pessoal", como o faz Maldon, mas aponta para um amplo panorama histórico da batalha, podendo ser encarado como um epítome da Crônica Anglo-Saxã, com foco especial nos anglo-saxões do oeste. Segundo Patrick Wormald4, histórico britânico, o poema constrói um "senso de identidade ideológica que se deu aos ingleses por Bede".






¹BIRRO, Renan Marques. Uma História da Guerra Viking. 2011.
²ANDERSON, George K. The Literature of the Anglo-Saxons (Rev. ed.). Princeton UP, 1966.
³OPLAND, Jeff. Scop and Imbongi IV: Reading Prose Poems1993.
4WORMALD, Patrick. "Anglo-Saxon society and its literature". In: Malcolm GoddenThe Cambridge Companion to Old English Literature. Michael Lapidge. Cambridge UP. pp. 1-€“22. 2007.



Poema online:

The Battle of Brunanburh Poem (em saxão "indeterminado")



Fonte:

Battle of Brunanburh poem

Battlefields Trust